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Frank Oliveira: As Noticias e o Espelho


Uma curiosidade quase mórbida toma conta de mim toda manhã. Aproximo-me da banca de revistas e escaneio furtivamente as manchetes dos jornais como quem olha um acidente procurando corpos. Sei que boa coisa não iria ler, mesmo assim insisto na leitura, querendo saber o que esta ocorrendo de podre no reino tupiniquim; sabendo também que o efeito daquela noticia será similar à imagem de um corpo acidentado num desastre imbecil que poderia ter sido evitado por um drink a menos.

O anjinho e o diabinho brigam por essa decisão matinal que terá efeito pelo resto do meu dia, mas acabo dando ouvidos à curiosidade e mando para o inferno a precaução, o discernimento em saber que ler tudo aquilo não me ajudará em nada, pelo contrário, dependendo da noticia, ficarei o resto do dia comentando-a com os colegas, disseminando minha insatisfação com o mundo e distorcendo ainda mais o que li para convencer-los que o mundo está, estava e sempre estará à beira de um colapso.

- Bom dia, Frank! – diria alguém no escritório.

- Bom dia Fulano. – eu responderia, para em seguida comentar: Você viu que soltaram a assassina... Você ouviu a última de Brasília...

Se toda essa corrupção e violência que pinga dos jornais e revistas me embrulham o estômago, isso deve ser um bom sinal: devo estar mesmo no caminho menos egoísta; onde se não consigo evitar as besteiras que faço pelo menos esses atos medonhos do meu dia-a-dia não prejudicam tanto as pessoas ao meu redor. Contudo, meus comentários sobre o que leio nos jornais e absorvo pela TV, distorcidos pelo meu ponto de vista, ajudam ainda mais a propagar essa sensação de indignação que deveria deixar de ser teoria e obra prima para as minhas lamentações e passar a prática através do ato de votar em um candidato decente ou no drinque que deixaria de tomar, por saber que cada gesto meu, por menor que seja, acaba afetando a todos.

Se não consigo evitar essa “curiosidade” todo dia, ao menos estou tentando evitar o comentário inútil sobre esses assuntos desagradáveis de manchetes de jornais e que dão audiência aos tele noticiários e viram comida para os urubus de plantão. Nem sempre consigo. Ninguém quer saber se a sua sobrinha começou a andar ou se as pessoas finalmente pararam de passar fome no Sudão. Notícias boas não dão mesmo audiência, ibope e nem atenção. No fundo gostamos de ler e comentar sobre a desgraça alheia para nos dar conta o quanto a nossa vida é “maravilhosa e perfeita”. Precisamos dos políticos corruptos para que possamos declarar aos quatro cantos o quanto somos honestos, mesmo comprando produtos piratas que financiam essa mesma corrupção que tanto nos embrulha o estomago, mesmo sonegando impostos e etc. Como diria a sabedoria popular: apontar um dedo para o outro é apontar ao mesmo tempo três outros para nós.

Se alguém está fazendo algo que é o oposto que faríamos, precisamos pagar o preço de enxergar o reflexo desse espelho que é o rosto do outro. Não podemos exigir que esse reflexo se torne semelhante e nem muito menos julgar os seus atos com os nossos, como se fossemos o único modelo perfeito. Todos nós somos iguais (se acreditamos que fomos feitos à imagem e à semelhança de um Criador que não tem rosto e tem todos ao mesmo tempo), mas o nosso ego não. A imperfeição que gera essa distorção na imagem do espelho é a melhor prova que temos de que cada um de nós precisa trabalhar a sua imagem (o ego) de acordo com aquilo que precisamos experimentar para evoluirmos e nos tornarmos pessoas melhores nesse planeta.

Se você odeia morango, não posso forçá-lo a gostar por mais que acredite que essa fruta é a mais nutritiva e a mais saborosa. Se você vier a gostar de morango algum dia, será por conta própria, por meio das suas próprias escolhas e mesmo gostando das mesmas coisas, a experiência é diferente para cada um de nós.

Por isso que um certo Rabi á 2000 anos atrás dizia que o maior mandamento que existe é “amais uns aos Outros” e não sei quanto a vocês, mas acredito que se há uma lista de sinônimos que ajude a descrever o amor, “Respeito” está no topo dela. Contudo, respeito pela mulher que te colocou no mundo não é o mesmo que submissão; respeito pela pessoa amada não significa escravidão; respeito pelo teu próximo não é ser um poço de reclamação; respeito por si mesmo não é chafurdar no lixo alheio para perceber o quanto o seu quintal é mais verde e nem tão pouco apontar a sujeira ou o mau cheiro. Pense a respeito, talvez o quintal do outro esteja sujo só para te mostrar o que o seu quintal pode se tornar se você parar de limpar.

Frank Oliveira

- Frank Oliveira é o pseudônimo de Francisco de Oliveira, outros textos podem ser acessados em seu blog: www.cronicasdofrank.blogspot.com

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