Quando a idade bateu em sua porta, trouxe junto
a tristeza e o abandono.
Visitas, somente as testemunhas de Jeová aos
domingos; o telefone só tocava por telemarketing.
Estar sozinho não é fácil em nenhuma fase da
vida, mas na velhice era mortal.
Ele precisava de companhia, mas os parentes
estavam sempre ocupados para lembrar que ele existia.
Pouco a pouco, sentia a vontade de viver se
esvaindo... Acreditara que não sentiria alegria nunca mais, até o dia em que um
anjo de quatro patas surgiu em sua vida.
Faminto, sujo, sarnento, ele tinha a perna
ferida de tanto "viralatar" por aí, e olhos carentes que chamaram a
sua atenção e a sua vontade de ajudar.
Dizem que o amor de verdade nasce da vontade
incondicional de se dedicar sem esperar nada em troca, e foi assim que o amor
entre ele e o anjo nasceu. O cachorro precisava de cuidados, e ele queria
cuidar.
Foi só uma questão de tempo para que a casa
velha desse lugar à jovialidade do querer continuar... O anjo de asas caídas
agora pulava que nem criança, e o seu rabo, que antes estava perdido entre as
pernas, voltou a querer tocar o céu.
O velho já não sentia mais as dores no peito; o
cansaço, que antes era diário, foi virando fim de mês e indo cada vez mais para
longe. O anjo de quatro patas havia lhe devolvido a vida, e tudo o que ele
tinha lhe oferecido foi um pouco de cuidado e um prato de comida.
Em pouco tempo, o velho rejuvenesceu e o
cachorro trocou a rua pela amizade do homem e, muito embora seus vizinhos o
criticassem, dizendo que não era certo tratar um cachorro como se fosse gente,
o velho enxergava o cão como o seu melhor amigo, um companheiro que Deus havia
lhe enviado, para resgatá-lo do esquecimento humano.
Frank Oliveira
Frank Oliveira
- Frank Oliveira é o pseudônimo de
Francisco de Oliveira.
Outros textos podem ser
acessados em seu blog: www.cronicasdofrank.blogspot.com